“Uma só coisa é necessária.” (Lucas 10,42)
Estimados irmãos e irmãs em Cristo, minha saudação Franciscana de Paz e Bem!
Com essa afirmação serena e firme do versículo introdutório, Jesus nos convida a reavaliar tudo o que ocupa o nosso coração. Vivemos em tempos agitados, em que as vozes do mundo gritam urgências de todos os lados: produção, desempenho, ativismo, resultados. No meio disso tudo, também nós, como Marta, acabamos agitados e inquietos, mesmo dentro da Igreja, mesmo no serviço de Deus. E então, corremos o risco de perder o essencial.
O Evangelho de hoje nos apresenta duas atitudes diante da presença do Senhor. Marta, dedicada, ativa, servindo com generosidade, mas sobrecarregada e irritada, sente-se sozinha. Maria, por outro lado, senta-se aos pés de Jesus e escuta. Jesus não repreende o serviço de Marta, mas aponta o que está faltando: a centralidade da escuta. Porque antes de fazer por Deus, é preciso estar com Deus. Antes de falar, é preciso escutar. Antes de servir, é preciso amar. “Maria escolheu a melhor parte e ela não lhe será tirada”.
Na primeira leitura, vemos Abraão acolhendo os três visitantes. Ele corre, prepara tudo, serve, mas tudo isso nasce de um coração que percebe a presença do Senhor. O serviço de Abraão é expressão de sua fé. Não é agitação sem sentido. Ele serve porque reconhece. Marta, naquele momento, ainda não reconhece a profundidade do que está diante dela.
Na segunda leitura, São Paulo nos dá um testemunho impressionante de amor e perseverança. Sofrendo pela Igreja, ele se alegra por poder participar das dores de Cristo, completando em sua carne o que falta às tribulações do Senhor. Mas ele só pode dizer isso porque está enraizado em Cristo, porque O conhece profundamente e O anuncia com convicção. Não é o ativismo que sustenta Paulo, mas a união com o Senhor.
Irmãos e irmãs, essa Palavra vem até nós hoje também como um consolo e um alerta. A Igreja de Cristo, em nossos tempos, enfrenta muitas tempestades: incompreensões, divisões, escândalos, perseguições veladas e explícitas. Muitos se sentem como Marta: cansados, sozinhos, talvez pensando até que Deus não se importa. Mas o Senhor olha com amor e nos diz: “Uma só coisa é necessária”. Ele nos chama de volta à intimidade com Ele, à escuta da Palavra, à fidelidade silenciosa, à oração que sustenta tudo.
Também hoje, infelizmente, vemos que nem todos permanecem firmes na escuta do Senhor. Há quem, diante das dificuldades, se deixe seduzir por caminhos mais fáceis, por promessas de prestígio, influência ou posições de destaque. Esquecem que, no seguimento de Cristo, o mais alto cargo sempre será o serviço humilde, silencioso e fiel. Marta se preocupava com muitas coisas... e, às vezes, nós também nos distraímos com aquilo que brilha aos olhos, mas não permanece. Só uma coisa é necessária: estar aos pés do Senhor e permanecer com Ele, mesmo quando isso custa.
Que possamos renovar nossa escolha: não queremos viver apenas correndo de um lado para o outro. Queremos permanecer com Ele. Queremos ser discípulos que escutam, amam e depois servem com alegria. E assim, mesmo em meio às tempestades, continuaremos firmes, porque nossa força virá da única coisa que é verdadeiramente necessária: Jesus.
Dado no Capão Grande, Tabosa, aos XX dias do mês de julho do ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de MMXXV.
+Cardeal Araújo.
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