Homilia Semanal [XII° Domingo do Tempo Comum]

 


"Tu és o Cristo de Deus" (Lc 9,20).

Estimados irmãos em Cristo! Paz e Bem!

O tema central da reflexão deste domingo é a identidade de Jesus. Pedro, diante da pergunta do Senhor: "Quem diz o povo que eu sou?", responde com firmeza: "O Cristo de Deus". Mediante a profissão de fé de Pedro, Jesus exorta aos discípulos que não revelem isso a ninguém. À primeira vista, pode soar estranho o pedido de silêncio sobre uma Verdade tão essencial. No entanto, Jesus conhece os corações. Ele sabe que muitos judeus esperavam um Messias poderoso, libertador político, restaurador da antiga glória de Israel. Mas essa não é a missão de Cristo.


Sua missão é de outra ordem: sofrer, morrer e ressuscitar por amor. E quem quiser segui-lo deverá percorrer o mesmo caminho. Jesus nunca iludiu os discípulos quanto ao real significado de ser o Messias. Não é uma jornada de glórias humanas, mas de entrega, de renúncia, de profunda conformidade com a vontade de Deus. É uma kenosis, um esvaziamento de si mesmo, assim como Ele o fez. Sendo Deus, esvaziou-se e assumiu a nossa pobre condição humana.

Esvaziar-se não significa perder o controle da própria vida, mas sim moldá-la à vontade do Pai. Talvez este seja o maior desafio do cristão: fazer a vontade de Deus, e não a própria. Não se trata mais de sacrifícios materiais no templo, mas de um sacrifício interior, espiritual: o coração entregue, submisso e generoso. Fazer a vontade de Deus dói, porque é uma vontade que não nasce do ego, mas do amor.


Esse caminho de doação e renúncia não é exclusivo do Novo Testamento. A primeira leitura (Zc 12,10-11; 13,1) nos apresenta a figura enigmática de um profeta sofredor, perseguido e silenciado, cuja dor se transforma em fonte de salvação e purificação. Sua missão, a princípio marcada pelo fracasso, revela-se fecunda. Como o rochedo ferido no deserto, de onde jorrou água para saciar o povo sedento, esse servo misterioso prefigura o Cristo crucificado, cuja entrega gera vida nova.

O Antigo Testamento, assim, já apontava para essa lógica divina: do sofrimento nasce a salvação. As primeiras comunidades cristãs reconheceram nessa figura sofredora o rosto de Jesus. O Messias esperado não é o guerreiro vitorioso, mas o Servo fiel. O que parecia derrota, à luz da fé, tornou-se triunfo: o triunfo do amor sobre o pecado e a morte.

A segunda leitura (Gl 3,26-29) aprofunda ainda mais essa realidade. São Paulo escreve aos Gálatas, que enfraquecidos na fé, estavam tentados a voltar ao julgo da Lei antiga. O apóstolo os recorda do dom recebido no Batismo: revestidos de Cristo, tornaram-se filhos e filhas de Deus. Essa filiação não é só um título, mas uma nova identidade. Ser filhos de Deus implica abraçar a cruz, renunciar ao orgulho, viver no amor.


Em Cristo, caem por terra todas as divisões humanas. Não há mais judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher. Todos são um só em Cristo. Todos herdeiros da mesma promessa. Mas essa dignidade exige coerência. Por isso, cabe a nós nos perguntarmos com sinceridade: o mundo ainda nos enxerga como pessoas revestidas de Cristo? Ou será que essa veste foi manchada por escolhas incoerentes, por divisões, por omissões?

Jesus é o Cristo de Deus. Mas um Cristo que se entrega. Um Cristo que sofre. Um Cristo que ama até o fim. Segui-lo é escolher o caminho da cruz. Mas é também escolher o caminho da vida plena, da comunhão com Deus e com os irmãos.


Que a nossa profissão de fé não seja apenas nos lábios, como um título bonito, mas se traduza em uma vida de entrega, de amor, de serviço. Que revestidos de Cristo, sejamos no mundo sinal da sua presença.


Dado no Capão Grande, Tabosa, aos XXII dias do mês de junho do ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de MMXXV.



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